Thursday, 8 November 2007
My little... refugee
"Hoje, 31 de Dezembro, é apenas mais um dia.
Para muitos,
apenas mais uma noite fria...
uma noite nua!
Como são todas as noites que não têm alma,
que não têm estrelas, nem lua,
nem nada.
Esta noite, nesta noite fria,
queria deixar-te um abraço...
Um abraço para tu segurares no regaço
e acariciares ao longo desta noite...
que não quero fria.
Porque tem alma!
Pode ser uma noite nua,
porque não sei se vai ter estrelas,
se vai ter lua...
Mas não vai ser fria.
Vai ser uma noite com alma,
com um abraço no teu regaço,
para tu acariciares...
esta noite... todas as noites,,,
com alma."
31 de Dezembro - AV
u can see the ligth...
Não tenho País. Faço do Céu e da terra meus país.
Não tenho poder Divino. Faço da Honestidade meu poder Divino.
Não tenho poder Mágico. Faço da força interior meu poder mágico.
Não tenho vida nem morte. Faço da eternidade minha vida e minha morte.
Não tenho corpo. Faço da coragem meu corpo.
Não tenho olhos. Faço do relâmpago meus olhos.
Não tenho ouvidos. Faço da sensibilidade meus ouvidos.
Não tenho membros. Faço da prontidão meus membros.
Não tenho regras. Faço da minha autoproteção minhas regras.
Não tenho destino. Faço da minha ocasião meu destino.
Não tenho princípios. Faço da adaptabilidade a todas as circunstâncias meus princípios.
Não tenho tática. Faço do vazio e da plenitude minhas táticas.
Não tenho talento. Faço do espírito alerta meu talento.
Não tenho amigos. Faço da minha mente meu amigo.
Não tenho inimigos. Faço da imprudência meu inimigo.
Não tenho armadura. Faço da benevolência e da retitude minha armadura.
Não tenho castelo. Faço da sabedoria imutável meu castelo.
Não tenho sabre. Faço da vacuidade meu sabre.
Bushido (código do guerreiro)
Thursday, 2 August 2007
Fusão...
"Sonhei que a mim correndo o gnídeo nume
Vinha coa Morte, co Ciúme ao lado,
E me bradava: "Escolhe, desgraçado,
Queres a Morte, ou queres o Ciúme?"
Não é pior daquela fouce o gume
Que a ponta dos farpões que tens provado;
Mas o monstro voraz, por mim criado,
Quanto horror há no Inferno em si resume."
Disse; e eu dando um suspiro: "Ah, não m'espantes
Coa a vista dessa fúria!... Amor, clemência!
Antes mil mortes, mil infernos antes!"
Nisto acordei com dor, com impaciência;
E não vos encontrando, olhos brilhantes,
Vi que era a minha morte a vossa ausência!"
Bocage - Visão Realizada
Tempestade...
"De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido e mirrado:
Curva fouce no punho descarnado
Sustentava a cruel, e me dizia
"Eu venho terminar tua agonia;
Morre, não penes mais, ó desgraçado!"
Quis ferir-me, e de Amor foi atalhada,
Que armado de cruentos passadores
Aparece, e lhe diz com voz irada:
"Emprega noutro objecto teus rigores;
Que esta vida infeliz está guardada
Para vítima só de meus furores.""
Bocage - Sonho
Tuesday, 24 July 2007
Caminhos separados....
"Hoje vou me deitar,
Com a cabeça na almofada das recordações,
Talvez me lamente, talvez chore,
Mas desta dor não me liberto,
Hoje apercebi-me que te perdi,
O tempo não me perdoou,
Nem tu,
Os dias passaram,
E os meus olhos deixaram de ver o que era real,
Hoje vou adormecer,
e tentar não sonhar contigo,
Porque me desiludis-te,
e a dor ultrapassou a ilusão,
Para eu existir, deixas tu de existir."
By Cidália - Esquecer-me
Aquela janela...
"Ninguém contempla as cousas, admirado.
Dir-se-á que tudo é simples e vulgar...
E se olho a flor, a estrela, o céu doirado,
Que infinda comoção me faz sonhar!
É tudo para mim extraordinário!
Uma pedra é fantástica! Alto monte
Terra viva, a sangrar, como um Calvário
E branco espectro, ao luar, a minha fonte!
É tudo luz e voz! Tudo me fala!
Ouço lamúrias de almas, no arvoredo,
Quando a tarde, tão lívida, se cala,
Porque adivinha a noite e lhe tem medo.
Não posso abrir os olhos sem abrir
Meu coração à dor e á alegria.
Cada cousa nos sabe transmitir
Uma estranha e quimérica harmonia!
É bem certo que tu, meu coração,
Participas de toda a Natureza.
Tens montanhas, na tua solidão,
E crepúsculos negros de tristeza!
As cousas que me cercam, silenciosas,
São almas, a chorar, que me procuram.
Quantas vagas palavras misteriosas,
Neste ar que aspiro, trémulas, murmuram!
Vozes de encanto vêm aos meus ouvidos,
Beijam os meus olhos sombras de mistério.
Sinto que perco, às vezes, os sentidos
E que vou flutuar num rio aéreo...
Sinto-me sonho, aspiração, saudade,
E lágrima voando e alada cruz...
E rasteirinha sombra de humildade,
Que é, para Deus, a verdadeira luz."
Teixeira de Pascoaes - O poeta, I
Details...
"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."
Sophia de Mello Breyner Andresen, Mar Novo (1958) - Porque
Tuesday, 26 June 2007
...
"Às vezes estou quase a desistir.
Então, penso em ti, Filhote
Ontem, hoje, agora...
E aquela vontade de partir,
Esmorece,
Ontem, hoje, agora...
Como a noite à luz de um archote,
Como a noite ao romper da aurora.
E a felicidade,
Acontece,
Ontem, hoje, agora...
Sempre!
Naqueles momentos de fraqueza,
Eu sei bem do que preciso.
Do teu abraço tenho a certeza,
E também do teu sorriso.
Do teu sorriso envolvente...
e terno.
Do teu abraço firme, forte...
e fraterno.
Mesmo quando o destino é duro
E a vida um poço escuro e fundo,
No teu abraço forte eu me seguro,
E consigo agarrar o mundo.
E aquele poço escuro e profundo,
Que até aí a alma me inundava,
Torna-se claro e acessível ao mundo
E a noite eu já não confundo,
Com a alegria da madrugada.
Vivemos sempre com a verdade
Mesmo quando o risco pisamos
Sabemos da nossa cumplicidade
E sem aclarar não nos vamos.
E sempre que a contrariedade
Nos acontece e tolhe o paço
Buscamos a nossa amizade
E trocamos o “tal” abraço.
Assim como tu sabes que me tens, sempre, aí.
Eu também sei que te tenho, sempre, aqui."
By AV - Barreiras
Recantos...
Queda...
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."
By Álvaro de Campos – Poema em linha recta
Sunday, 20 May 2007
Foggy day...
"Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti..."
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, by Florbela Espanca
High land...
"Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar."
Alberto Caeiro - Hoje de manhã saí muito cedo
Intimidades...
Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização.
Teus parentes, amigos, são as almas que atraistes, com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle.
Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência.
Teus pensamentos e vontade são a chave de teus atos e atitudes... São as fontes de atraçao e repulsão na tua jornada.
Não reclames nem te faças de vítima. Antes de tudo, analisa e observa.
A mudança está em tuas mãos.
Reprograma tua meta, busca o bem e viverás melhor. Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."
By Chico Xavier
What u see... is what u get!
Detalhes...
a dela e a tua
e a minha sombra já esquecida
surpreendida
parou na rua!
os dois bem juntos, tu e ela
nenhum reparou
que a outra sombra era daquela
que tu não queres
mas já te amou!
É madrugada não importa
neste silêncio há mais verdade
a noite é triste e tão sózinha
parece minha
toda a cidade!
nem um cigarro me conforta
nem o luar hoje me abraça
eu não te encontrarei jamais
e nestas noites sempre iguais
sou mais uma sombra que passa
sombra que passa e nada mais.
Ao longo desta madrugada
a sombra da vida
mora nas pedras da calçada
já não tem nada anda perdida
quando a manhã, desce enfeitada
no sol, que a procura
nem sabe quanto a madrugada
chora baixinho
tanta amargura!"
António Lampreia - Sobras da Madrugada
Saturday, 7 April 2007
Timidez...
Sunday, 25 February 2007
Mescla de luz...
Se os conselhos fossem bons não se dava, vendiam-se, mas… estes parecem-me mais ao menos ajustados:
– “Eu não te amo pelo que tu és, mas pelo que eu sou quando eu estou contigo…”
– “Ninguém merece as tuas lágrimas, e se alguém as merecer não te fará certamente chorar.”
– “Se alguém não te amar como tu desejas, isso não quer dizer que essa pessoa não te ame com todo o seu coração.”
– “A pior maneira de sentires a falta de alguém, é sentares-te a seu lado e saberes que ele/a nunca estará do teu lado.”
– “Nunca deixes de sorrir, mesmo que estejas triste, porque tu não sabes quem poderá apaixonar-se pelo teu sorriso.”
– “Talvez, para a generalidade das pessoas, tu não sejas senão mais um, mas para certas pessoas tu és todo o mundo.”
– “Não percas tempo com quem não está disponível para passar algum tempo contigo.”
– “Não chores porque alguma coisa terminou, mas sorri porque ela aconteceu.”
– “Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és.”
– “Não corras demasiado; as melhores coisas chegam quando menos se espera...”
Autores Desconhecidos…
Andarilhos...
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.
Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.
Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional."
By António Gedeão - Amador sem coisa amada
So it is life...
“Deita fora todos os números não essenciais à tua sobrevivência.
Isso inclui idade, peso e altura.
Deixa o médico preocupar-se com eles.
É para isso que ele é pago.
Frequenta, de preferência, amigos alegres.
Os de "baixo astral" põem-te em baixo.
Continua aprendendo...
Aprende mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.
Não deixes o teu cérebro desocupado.
Uma mente sem uso é a oficina do diabo.
E o nome do diabo é Alzheimer.
Curte coisas simples.
Ri sempre, muito e alto.
Ri até perder o fôlego.
Lágrimas acontecem.
Aguenta, sofre e segue em frente.
A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.
Mantém-te vivo, enquanto vives!
Rodeia-te daquilo de que gostas: família, animais, lembranças, música,plantas, um hobby, o que for.
O teu lar é o teu refúgio.
Aproveita a tua saúde;
Se for boa, preserva-a.
Se está instável, melhora-a.
Se está abaixo desse nível, pede ajuda.
Não faças viagens de remorso.
Viaja para o Shopping, para a cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faças viagens ao passado.
Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as oportunidades.
E lembra-te sempre de que:
A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste, mas pelos momentos em que perdeste o fôlego:
- de tanto rir...
- de surpresa...
- de êxtase...
- de felicidade..."
By Pablo Picasso
Friday, 9 February 2007
Sol...
"Não esperes um sorriso para seres gentil;
Não esperes ficar sozinha/o para reconhecer o valor de quem está ao teu lado;
Não esperes ficar de luto para reconhecer quem hoje é importante em tua vida;
Não esperes o melhor emprego para começar a trabalhar;
Não esperes a queda para te lembrares do conselho;
Não esperes...Não esperes a enfermidade para perceber o quanto é frágil a vida;
Não esperes pessoas perfeitas para então te apaixonares;
Não esperes a mágoa para pedir perdão;
Não esperes a dor para acreditar na oração;
Não esperes elogios para acreditar em ti mesmo;
Não esperes...
Não esperes que o outro tome a iniciativa se tu foste a/o culpada/o;
Não esperes ouvir dizer 'adoro-te', para dizeres 'eu também';
Não esperes o dia da tua morte para começares a amar a vida..."
Autor desconhecido
Monday, 5 February 2007
Lend a hand...
"Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.
Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei."
Rosa Lobato de Faria – Se eu morrer de manhã
Monstro das bolachas... :)
"Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
Não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil
Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar demais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Sinto-me frágil
Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil
Está a saber-me mal
Este Whisky de malte
Adorava estar "in"
Mas estou-me a sentir "out"
Frágil
Sinto-me frágil
Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Sinto-me frágil
Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil"
By Jorge Palma - Frágil
Sunday, 4 February 2007
Orvalho...
E a velhinha janela, onde me vou
Debruçar, para ouvir a voz das cousas,
Eu não era o que sou.
Se não fosse esta fonte, que chorava,
E como nós cantava e que secou...
E este sol, que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.
Ah, se não fosse este luar, que chama
Os espectros à vida, e se infiltrou,
Como fluido mágico, em meu ser,
Eu não era o que sou.
E se a estrela da tarde não brilhasse;
E se não fosse o vento, que embalou
Meu coração e as nuvens, nos seus braços,
Eu não era o que sou.
Ah, se não fosse a noite misteriosa
Que meus olhos de sombras povoou,
E de vozes sombrias meus ouvidos,
Eu não era o que sou.
Sem esta terra funda e fundo rio,
Que ergue as asas e sobe, em claro voo;
Sem estes ermos montes e arvoredos,
Eu não era o que sou."
Teixeira de Pascoaes - Canção duma sombra
Felicidade de Criança!
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida com se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer”
Ruy Belo – E tudo era possível
Solidão?! talvez não...
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. Depois, a minha irmã mais velha
casou-se, depois, a minha irmã mais nova
casou-se, depois o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco”
José Luis Peixoto – Na hora de pôr a mesa, éramos cinco
Luz...
Água...
Charles Chaplin - A vida
Queda...
“Respeitei na juventude
o mundo todo e a vida,
De nada sentia falta a não ser
da paz d’espírito,
e, contudo, eu mudei, apesar das minhas crenças,
nas mentiras da Iktumi acreditei cegamente.
Parecia que da verdade, era ela a detentora,
e, solene, prometeu fazer-me feliz p’ra sempre.
A Wakantanka riquezas ela me fez implorar,
afirmando que poder eu viria a ter;
foi-me oferecida a pobreza, p’ra
minha força interior achar.
Pedi fama,
para os outros me poderem conhecer;
Foi-me dado o anonimato
p’ra saber conhecer-me.
Pedi alguém a quem amar p’ra
jamais ficar sozinho;
Foi-me dada a vida dum eremita, p’ra
aprender a aceitar-me como sou.
Pedi poder p’ra
coisas realizar;
Foi-me dada a hesitação p’ra
a obedecer aprender.
Pedi saúde p’ra
uma vida longa viver;
Foi-me dado a doença, p’ra
cada minuto sentir e também apreciar.
Pedi à Mãe Terra coragem
p’ra seguir o meu caminho;
Foi-me dada fraqueza, p’ra
sua falta poder sentir.
Pedi uma vida feliz, p’ra
vida poder gozar;
Foi-me dada a vida, p’ra
poder viver feliz.
De tudo o que havia pedido, nada me ofertado,
apesar disso, contudo, todos os meus desejos
realidade se tornaram.”
Extracto do livro "Uma viagem espiritual", de Billy Mills/Nicholas Sparks
O Rio...
“Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indensa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração”
António Ramos Rosa - Não posso adiar o amor para outro século
Turbilhão...
“O amor traz à tona os nossos sentimentos não resolvidos. Num dia sentimo-nos amados e, no dia seguinte, estamos, repentinamente com medo de confiar no amor. As memórias dolorosas de rejeições passadas começam a vir à superfície quando temos de confiar e aceitar o amor do nosso parceiro.
Sempre que nos amamos mais ou somos amados por outras pessoas, os sentimentos reprimidos tendem a vir à tona e, temporariamente, ensombrar a nossa consciência amorosa. Vem nos à tona para serem cicatrizados e libertados. Podemos, repentinamente, ficar irritadiços, defensivos, críticos, ressentidos, exigentes, insensíveis e nervosos.
Sentimentos que não conseguíamos expressar no passado, de repente inundam a nossa consciência quando sentimos segurança para os sentir. O amor descongela os sentimentos reprimidos, e gradualmente esses sentimentos não resolvidos começam a vir a superfície durante um relacionamento
É como se os seus sentimentos não resolvidos esperassem que se sentisse amado e então viesse à tona para serem cicatrizados. Todos nos andamos por ai com uma carga de sentimentos não resolvidos, feridas do nosso passado que repousam, adormecidas dentro de nos, ate chegar o momento em que nos sentimos amados. Então quando nos sentimos seguros para sermos nós mesmos, antigas mágoas vem à tona.
Se soubermos lidar com estes sentimentos com sucesso, podemo-nos sentir muito melhor e reavivar o nosso potencial amoroso. Se, no entanto, discutimos e culpamos o nosso parceiro em vez de nos curarmos do nosso passado, restará apenas o aborrecimento e a tendência será reprimir, novamente, os sentimentos.”
In “Os Homens são de Marte, as Mulheres de Vénus” de John Gray
O meu canto...
perdido numa paisagem quase virgem...
e que hoje é "invadido".
Por estranhos!
Faz-se sobressair na paisagem da serra da Lousã.
O calor de uma recepção afável e amiga faz-nos esquecer a "invasão" ao nosso canto...sim, será o sitio onde, mesmo só, me fez sentir em casa...
Paredes que compartilharam os sentimentos de andarilhos que, outrora, apenas as usou como abrigo. Hoje são também refugio,
mas com o conforto do dia a dia!
Tenho saudades da simplicidade do abrigo...
O prazer das coisas simples que me permitia contemplar! Algo tão simples... como um abraço amigo!
Solidão...
...
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a vida nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tornarmos o gosto aos ocenaos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos"
David Mourão-Ferreira – E por vezes
... mar
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
( Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura.
O que importa é partir, não é chegar."
Miguel Torga - Viagem
Adeus...
Amigos...
A todos os meus amigos:
"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você sesentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
Eque pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono dequem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar esofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar."
Vítor Hugo
Tradições...
"Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração"
Augusto Gil, Luar de Janeiro – Balada da Neve
Olhar...
Not Yet!
Extracto de Paulo Coelho in Brida
Is it?!
Part of the song from Regina Spektor - On the radio
Foi...
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...
Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...
Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder."
António Botto - Quanto, quanto me queres? - Perguntaste
Saturday, 3 February 2007
Sanaitinho
"Também eu, também eu
joguei às escondidas,
fiz baloiços, tive bolas, berlindes,
papagaios, automóveis de corda,
cavalinhos...
Depois cresci!
Tornei-me do tamanho que hoje tenho;
os brinquedos perdi-os,
os meus bibes deixaram de servir-me.
Mas nem tudo de menino;
esta alegria ingénua perante as coisas novas
e esta vontade de brincar.
Vida, não me venhas roubar o meu tesouro!
Não te importes que eu ria,
que eu salte como dantes.
E se eu riscar os muros ou quebrar algum vidro,
ralha, ralha comigo,
mas de manso..."
Extracto de Sebastião da Gama. Foi-me dedicado pelo meu pai em 26/11/1995